Estreando nosso blog em 2024, vamos falar de um assunto super importante e de grande de utilidade pública: a campanha Janeiro verde, sobre conscientização e prevenção do câncer do colo do útero.
Apesar de altamente evitável, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de colo do útero é o terceiro mais incidente nas mulheres brasileiras, atrás somente do câncer de mama e do colorretal e corresponde a quarta causa de morte mundial por câncer nas mulheres.
O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção persistente por alguns tipos do papilomavírus humano (HPV) chamados oncogênicos. Também há evidências científicas que relacionam o HPV com cânceres do ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, 80% das mulheres sexualmente ativas terão contato com o HPV ao longo da vida e cerca de 5% delas vão desenvolver o tumor maligno em um prazo de dois a dez anos. Alta paridade, uso prolongado de pílulas anticoncepcionais orais, consumo de tabaco, coinfecção com outros agentes sexualmente transmissíveis, fatores de estilo de vida como múltiplos parceiros sexuais, idade mais jovem na primeira relação sexual, imunossupressão e dieta foram identificados como fatores concomitantes com maior probabilidade de influenciar o risco de infecção por HPV e seu progresso para a carcinogênese cervical.
Atualmente, o câncer do colo do útero é considerado passível de erradicação, por meio da vacinação contra os tipos de HPV oncogênicos mais prevalentes e do rastreamento e tratamento das lesões precursoras. A vacina é o melhor meio de prevenção e está inserida no calendário vacinal do Ministério da Saúde (disponível nas unidades de saúde), sendo indicada para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, além de pessoas que vivem com HIV e pessoas transplantadas na faixa etária de 9 a 26 anos. Na rede privada, a vacinação pode ser realizada em mulheres e homens até 45 anos. A vacinação é considerada uma medida preventiva eficaz contra as infecções causadas pelos diferentes tipos de HPV, a proteção é acima dos 90%. No Brasil, está disponível a vacina quadrivalente, que protege contra os tipos 6 e 11, causadores de 90% das verrugas genitais, e os tipos 16 e 18, considerados de alto risco, que causam cerca de 70% dos cânceres cervicais.
Além da vacinação, é importante realizar exames preventivos, para o rastreamento do câncer do colo do útero, o mais conhecido é o exame citopatológico (exame de Papanicolau), que ajuda na detecção de lesões pré-cancerosas. Conforme diretriz do Ministério da Saúde, o Papanicolau de rotina é indicado para mulheres de 25 a 64 anos de idade que já tiveram algum tipo de atividade sexual. Ressalta-se que os exames preventivos devem ser realizados mesmo em mulheres que tenham sido vacinadas.
O controle abrangente do câncer do colo do útero inclui prevenção primária (vacinação contra o HPV), prevenção secundária (triagem e tratamento de lesões pré-cancerosas), prevenção terciária (diagnóstico e tratamento do câncer invasivo do colo do útero) e cuidados paliativos. Feito o diagnóstico, é importante determinar o estágio clínico para que o tratamento possa ser escolhido de forma adequada O tratamento do câncer do colo do útero pode variar dependendo do estágio, tamanho do tumor e fatores como idade e desejo de ter filhos. Entre as opções encontram-se cirurgia, quimioterapia e radioterapia, que devem ser orientadas após avaliação médica.
Como a Nutrição pode ajudar?
No desenvolvimento do câncer do colo do útero, a resposta imune desempenha um papel essencial, desde a eliminação da infecção pelo HPV até a resposta contra o tumor. Para o funcionamento ideal da resposta imune, são necessários vários fatores, sendo um dos mais importantes uma nutrição adequada. A complexa interação entre nutrientes e microbiota intestinal mantém o sistema imunológico em homeostase e, em caso de infecção, proporciona maior capacidade de combater a invasão de patógenos, como ocorre na infecção pelo HPV. Desta forma a alimentação saudável pode ajudar na prevenção de diversos tipos de cânceres.
Em relação aos nutrientes, diferentes antioxidantes podem ter diferentes efeitos supressivos em diferentes fases do desenvolvimento do câncer do colo do útero (desde a infecção por HPV até ao desenvolvimento de lesões intraepiteliais cervicais e do câncer do colo do útero). Antioxidantes dietéticos, incluindo polifenóis e vitaminas, foram investigados por seus benefícios como propriedades antioxidantes, antiproliferativas, antiangiogênicas, anticancerígenas, imunomoduladoras e hipoglicêmicas.
O consumo de cinco porções diárias de frutas, verduras e legumes de cores verde-escuro, amarelo, laranja e vermelho, bem como vegetais crucíferos podem diminuir o risco de desenvolver o câncer de colo de útero, pois estes alimentos possuem propriedades antioxidantes e são ricos em carotenoides que atuam protegendo as células contra o estresse oxidativo causado pelo excesso de espécies reativas de oxigênio “os radicais livres” produzidos pelo organismo.
A ingestão de vitaminas A e D e carotenoides pode inibir o desenvolvimento precoce do câncer cervical por suas atividades antiproliferativas, antineoplásicas, pró-apoptóticas e anti-inflamatórias. A ingestão de folato, que desempenha um papel importante na síntese, reparo e metilação do DNA e na proliferação celular pode prevenir o desenvolvimento da carcinogênese. A ingestão de vitaminas C e E pode reduzir a proliferação celular e induzir a apoptose protegem as células contra danos oxidativos ao DNA e mutagênese, podendo inibir o processo de desenvolvimento do câncer cervical. Os polifenóis são os antioxidantes que podem ser encontrados em uma grande variedade de vegetais que lhes confere a qualidade de compostos dietéticos que possuem atividades quimiopreventivas que inibem a proliferação de células HPV através da indução de apoptose, interrupção do crescimento, inibição da síntese de DNA e modulação das vias de transdução de sinal.
O consumo de alimentos ricos em antioxidantes em frutas, vegetais, oleaginosas, ervas é frequentemente incentivado como forma de prevenção do câncer. Estudos futuros devem investigar o potencial anticancerígeno e os mecanismos através dos quais estes nutrientes previnem o desenvolvimento do câncer do colo do útero por meio de estudos experimentais.
Referências:
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